Mortes em Paraisópolis: o que se sabe e o que falta esclarecer Confusão durante ação da PM deixou 9 mortos e 12 feridos na madrugada de domingo (1º), na Zona Sul de São Paulo.

  Terça, 03 de dezembro de 2019
  G1    |      
Mortes em Paraisópolis: o que se sabe e o que falta esclarecer Confusão durante ação da PM deixou 9 mortos e 12 feridos na madrugada de domingo (1º), na Zona Sul de São Paulo.
     
    Seis policiais são afastados depois da ação no baile funk em Paraisópolis, em São Paulo.
     
    Há duas versões sobre o que aconteceu em um baile funk de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, na madrugada de domingo (1º), quando nove pessoas morreram pisoteadas e outras 12 ficaram feridas. A polícia diz que a confusão foi provocada por criminosos, que atiraram contra militares e usaram frequentadores da festa como "escudo humano". Parentes de vítimas contestaram e falaram em uma "emboscada" da PM.
     
    Veja a seguir mais detalhes sobre o baile funk, sobre a comunidade, sobre as versões do que aconteceu no domingo e o que ainda falta esclarecer:
     
    Baile da 17
     
    Na madrugada do último domingo, acontecia na rua Ernest Renan, em Paraisópolis, o Baile da 17 (muitos jovens chamam o baile pela sigla Dz7), uma festa que existe desde o começo dos anos 2000. Segundo moradores ouvidos pela BBC News Brasil, o número 17 é uma referência a um bar de drinks que existia na favela. A festa teria surgido como um pagode em frente a esse boteco, mas, nos intervalos, os frequentadores ouviam funk em carros estacionados na rua.
     
    O baile cresceu e invadiu as madrugadas. Carros com aparelhos de som potentes tocam funk para até 30 mil pessoas espalhadas por vielas que hoje são mais comerciais do que residenciais. A festa costuma ocorrer nas noites de sexta e sábado. Mas podem começar na noite de quinta-feira e se estender até domingo. No dia da confusão, cerca de 5 mil pessoas participavam do baile.
     
    Paraisópolis
     
    É a 2ª maior favela de São Paulo e 5ª maior do Brasil. Tem 10 quilômetros quadrados e fica ao lado do Morumbi, bairro nobre na zona oeste de São Paulo.
     
    Estima-se que tenha cerca de 100 mil habitantes e 8 mil estabelecimentos comerciais — a maioria pertence a moradores. O local sofre com pobreza extrema, falta de saneamento básico e atuação do tráfico de drogas.
     
     
    A confusão na madrugada de domingo
     
    O que diz a polícia:
     
    Agentes do 16º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M) faziam a Operação Pancadão, que busca "garantir o direito de ir e vir do cidadão e impedir a perturbação do sossego"
    Os policiais estavam na Av. Hebe Camargo quando foram alvo de tiros disparados por dois homens em uma motocicleta
    A dupla fugiu em direção ao baile funk ainda atirando, o que provocou tumulto
    Equipes da Força Tática, que foram reforçar a ação, levaram pedradas e garrafadas. Os policiais, então, revidaram com munições químicas para dispersão
    Alguém no meio da multidão disparou um tiro e houve correria
    Nenhum policial fez disparos com armas de fogo
    Duas viaturas da PM foram depredadas
    Todas as vítimas morreram pisoteadas, e não por causa de tiros
     
    O que dizem frequentadores do baile e parentes de vítimas:
     
    Policiais chegaram e fecharam duas ruas onde acontecia o baile (as esquinas da Ernest Renan com a Herbert Spencer e Rodolf Lotze), coagindo os frequentadores Houve corre-corre
    Policiais atiraram com armas de fogo, atiraram bombas de gás e balas de borracha, jogaram garrafas, bateram com cassetetes e usaram sprays de pimenta na multidão
    Agrediram com tapas e chutes pessoas já imobilizadas
    Mortos e feridos
     
    Nove pessoas morreram e 12 foram hospitalizadas com ferimentos. Na manhã desta segunda-feira (2), apenas uma permanecia internada.
     
    Nenhuma das nove vítimas morava em Paraisópolis. Moradores dizem que elas tiveram dificuldade para encontrar saídas durante o tumulto e, por isso, acabaram pisoteadas em becos sem saída.
     
     
    Saiba quem são os mortos:
     
    Marcos Paulo Oliveira dos Santos, de 16 anos
    Dennys Guilherme dos Santos Franca, de 16 anos
    Denys Henrique Quirino da Silva, de 16 anos
    Gustavo Cruz Xavier, de 14 anos
    Bruno Gabriel dos Santos, de 22 anos
    Eduardo Silva, de 21 anos
    Mateus dos Santos Costa, de 23 anos
    Gabriel Rogério de Moraes, de 20 anos
    Luara Victoria de Oliveira, de 18 anos
    Nenhum dos nove mortos morava na comunidade de Paraisópolis
     
    O que aconteceu após o baile
     
    Seis policiais que participaram da ação prestaram depoimento na tarde de domingo e foram liberados. As armas deles foram apreendidas. Na segunda (2), a PM decidiu afastá-los do trabalho nas ruas.
     
    Moradores protestaram nas ruas de Paraisópolis no domingo para pedir justiça. Um grupo carregou cartazes e cruzes e caminhou até a Avenida Giovani Gronchi. O ato foi pacífico.
     
    Nesta segunda, a Polícia Civil começou a colher depoimentos de testemunhas da ação da PM. Foram ouvidos frequentadores do baile, parentes de vítimas e outros policiais que ajudaram a socorrer as vítimas.
     
    Além da investigação da Polícia Civil, que apura responsabilidades pelas mortes, a Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo também abriu um inquérito sobre a conduta dos policiais.
     
    O que falta esclarecer
     
    Quais eram os objetivos da operação policial no baile funk e quantos policiais participavam dela?
    Criminosos atiraram contra policiais? Qual o motivo? Esses criminosos foram localizados?
    Policiais revidaram com arma de fogo?
    Por que a polícia precisou usar bombas de gás e cassetetes contra a multidão do baile?
    Quais são as causas das mortes das nove pessoas?
    Os vídeos que mostram policiais agredindo outras pessoas foram gravados durante o baile de domingo? Esses policiais já foram identificados? E as vítimas?
    Por que a polícia tentou dispersar a multidão sem garantir uma rota de fuga?
    Repercussão
    O ouvidor das polícias, Benedito Mariano, afirmou que "a PM precisa mudar protocolo".
     
    "Toda intervenção policial em baile funk tem que chegar antes do evento. Intervenção policial quando há cinco mil pessoas na rua o conflito é inerente. Há necessidade de mudar o protocolo da PM sobre bailes funk", disse o ouvidor.
     
    O governador João Doria (PSDB) lamentou as mortes e pediu "apuração rigorosa" do episódio.
     
    Ariel de Castro Alves, advogado e conselheiro do Conselho Estadual de Direitos Humanos (Condepe), disse que "foi uma ação desastrosa da Polícia Militar, porque gerou tumulto e morte".
     
    "Os vídeos mostram torturas, abusos e que os jovens foram encurralados. Demonstram que os PMs são os principais responsáveis pela tragédia. A polícia precisa estar preparada para atuar em situações como essa", afirmou Ariel.
    A diretora-executiva do Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo, afirmou que a polícia de São Paulo tem de prestar contas do que ocorreu na comunidade.
     
    "É muito importante que a polícia preste contas do que, de fato, aconteceu, sem medo de assumir um erro caso tenha havido", afirmou. "Esse é o principal ponto."
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